Salvar Meia Terra para a natureza afetaria um bilhão de pessoas
Salvar Meia Terra para a natureza afetaria um bilhão de pessoas
Redação do Site Inovação Tecnológica - 06/01/2020
[Imagem: Judith Schleicher et al. - 10.1038/s41893-019-0423-y]
Meia Terra
Esta proposta, conhecida como "Meia Terra", juntamente com outras semelhantes, vêm ganhando força entre conservacionistas e formuladores de políticas. No entanto, pouco se sabe sobre as implicações sociais e econômicas para as pessoas da adoção dessas metas.
Por isso, uma equipe do Reino Unido e da Áustria fez a primeira tentativa de avaliar quantas pessoas e quem seria afetado se metade do planeta fosse "salva" para tentar garantir a diversidade dos habitats do mundo.
Judith Schleicher e seus colegas analisaram conjuntos de dados globais para determinar onde o status de unidade de conservação poderia ser adicionado para fornecer 50% de proteção a cada ecorregião: grandes áreas de habitats distintos, como manguezais da África Central, florestas mistas do Báltico, florestas tropicais etc.
[Imagem: MAtchUP Project/Divulgação]
Justiça ambiental
Mesmo evitando, sempre que possível, "pegadas humanas", como cidades e terras agrícolas, os resultados sugerem que uma estimativa conservadora para aqueles diretamente afetados pela Meia Terra seria superior a um bilhão de pessoas, principalmente vivendo em países de renda média.
Muitas nações ricas e densamente povoadas no Hemisfério Norte também precisariam ver grandes expansões de terras com status de conservação para chegar à meta de 50% - isso poderia até mesmo incluir partes urbanas de Londres, por exemplo, dando à proposta um quê de irrealismo.
Os autores do estudo argumentam que, embora uma ação radical seja urgentemente necessária para o futuro da vida na Terra, questões de justiça ambiental e bem-estar humano devem estar na vanguarda do movimento de conservação.
"As pessoas são a causa da crise de extinção, mas elas também são a solução. As questões sociais devem desempenhar um papel mais proeminente se quisermos oferecer uma conservação eficaz que funcione tanto para a biosfera quanto para as pessoas que a habitam," disse Judith Schleicher, da Universidade de Cambridge.
[Imagem: Domínio Público]
Consequências para o ser humano
A ideia de uma Meia Terra reservada para a natureza foi popularizada pelo biólogo Edward Wilson em seu livro de 2017 com o mesmo nome. Mais recentemente, um "Acordo Global para a Natureza" - visando uma proteção de 30% até 2030 e 50% até 2050 - foi endossado por várias organizações ambientais.
No entanto, essas propostas têm sido ambíguas quanto a "formas e localizações exatas" do que deve ser conservado, afirmam Schleicher e seus colegas.
Com base em suas análises, a equipe estima cautelosamente que 760 milhões de pessoas se encontrariam vivendo em áreas com novo status de conservação: um aumento de quatro vezes em relação aos 247 milhões que atualmente residem em áreas protegidas.
A equipe pede aos defensores da Meia Terra, e a todos os que apoiam a conservação baseada em áreas, que "reconheçam e levem a sério" as consequências humanas - tanto negativas quanto positivas - de suas propostas.
"Viver em áreas ricas em habitat natural pode melhorar a saúde mental e o bem-estar. Em alguns casos, as áreas protegidas podem proporcionar novos empregos e renda através do ecoturismo e da produção sustentável," afirmou Schleicher. "No entanto, no outro extremo, certas formas de 'fortalezas' de conservação podem ver as pessoas deslocadas de seu lar ancestral e negar acesso aos recursos de que dependem para sua sobrevivência".
"A falta de consideração das questões sociais levará a políticas de conservação que são prejudiciais ao bem-estar humano e com menor probabilidade de serem implementadas. Precisamos ser ambiciosos diante das crises ambientais. Mas é vital que as implicações sociais e econômicas em nível local sejam considerados se quisermos enfrentar os fatores que motivam a perda de biodiversidade. A vida de muitas pessoas e a existência de diversas espécies estão nos dois lados da balança," finalizou Schleicher.
- Teoria Gaia 2.0 detalha processo da vida na Terra
Artigo: Protecting half of the planet could directly affect over one billion people
Autores: Judith Schleicher, Julie G. Zaehringer, Constance Fastré, Bhaskar Vira, Piero Visconti, Chris Sandbrook
Revista: Nature Sustainability
DOI: 10.1038/s41893-019-0423-y
Teoria Gaia 2.0 detalha processo da vida na Terra
Redação do Site Inovação Tecnológica - 26/09/2018
Teoria Gaia
Uma teoria consagrada pelo tempo sobre por que as condições na Terra permaneceram estáveis o suficiente para que a vida evoluísse durante bilhões de anos recebeu uma de suas primeiras atualizações importantes.
Nos últimos 50 anos, a hipótese Gaia, de autoria do professor James Lovelock, vem sendo a referência fundamental - e talvez única - para explicar como a vida persistiu na Terra apesar do dinamismo do planeta.
A ideia da teoria Gaia - alguns preferem hipótese Gaia - é que os organismos vivos e seus arredores inorgânicos evoluíram juntos como um sistema único, autorregulador, que manteve o planeta hospitaleiro para a vida - apesar de ameaças como um Sol com suas próprias idiossincrasias, vulcões e ataques de meteoritos, sem contar os aquecimentos e eras do gelo.
O professor Tim Lenton, da Universidade de Exeter (Reino Unido), e o professor de ciências e sociólogo francês Bruno Latour juntaram-se agora para lançar o que eles chamam de "Gaia 2.0", que tem como eixo central a ideia de que os seres humanos têm o potencial de dar um "upgrade" nesse sistema operacional planetário.
Seleção sequencial e seleção pela sobrevivência
Na Teoria Gaia original, James Lovelock sugeriu que os componentes orgânicos e inorgânicos da Terra evoluíram juntos como um sistema autorregulador único que pode controlar a temperatura global e a composição atmosférica para manter sua própria habitabilidade.
A nova proposta de Lenton e Latou traz uma nova solução para como Gaia funciona em termos reais: A estabilidade viria de uma "seleção sequencial", na qual situações onde a vida desestabiliza o ambiente tendem a ser de curta duração e resultam em novas mudanças até que surja uma nova situação estável, que tende a persistir.
Quando isso acontece, o sistema tem mais tempo para adquirir outras propriedades que ajudam a estabilizá-lo e mantê-lo - um processo batizado de "seleção apenas pela sobrevivência".
"O problema central com a hipótese original de Gaia era que a evolução através da seleção natural não pode explicar como todo o planeta passou a ter propriedades estabilizadoras ao longo das escalas de tempo geológicas. Em vez disso, mostramos que pelo menos dois mecanismos mais simples [seleção sequencial e seleção pela sobrevivência] trabalham juntos para dar ao nosso planeta propriedades autoestabilizantes," disse Lenton.
[Imagem: PHL/UPR Arecibo]
Gaia 2.0
Os pesquisadores acreditam que a evolução tanto dos seres humanos quanto de sua tecnologia pode adicionar um novo nível de "autoconsciência" à autorregulação da Terra, que está no cerne da teoria original de Gaia.
À medida que os humanos se tornam mais conscientes das consequências globais de suas ações, incluindo as mudanças climáticas, um novo tipo de autorregulação deliberada se torna possível conforme limitamos nossos impactos no planeta.
Lenton e Latour sugerem que essa "escolha consciente" para se autorregular introduz um "novo estado fundamental de Gaia" - o que poderia nos ajudar a alcançar uma maior sustentabilidade global no futuro.
No entanto, essa autorregulação autoconsciente depende de nossa capacidade de monitorar e modelar continuamente o estado do planeta e nossos efeitos sobre ele.
"Se quisermos criar um mundo melhor para a crescente população humana neste século, precisamos regular nossos impactos em nosso sistema de suporte à vida e deliberadamente criar uma economia mais circular, que se baseia - como a biosfera - na reciclagem de materiais feita com energia sustentável," disse o professor Lenton.
Artigo: Gaia 2.0
Autores: Timothy M. Lenton, Bruno Latour
Revista: Science
Vol.: 361 (6407): 1066-1068
DOI: 10.1126/science.aau0427
Artigo: Selection for Gaia across Multiple Scales
Autores: Timothy M. Lenton, Stuart J. Daines, James G. Dyke, Arwen E. Nicholson, David M. Wilkinson, Hywel T. P. Williams
Revista: Trends in Ecology & Evolution
Vol.: 33, ISSUE 8, P633-645
DOI: 10.1016/j.tree.2018.05.006
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