De onde veio a água da Terra?
De onde veio a água da Terra?
Redação do Site Inovação Tecnológica - 30/04/2020
[Imagem: C. Gillmann et al. - 10.1038/s41561-020-0561-x]
Impacto profundo
Embora seja óbvio que nosso planeta azul é rico em água, essa observação não bate, primeiro, com a exploração de outros planetas rochosos vizinhos, genuinamente sem água de superfície, e, segundo, com a ideia de um impacto gigantesco entre a proto-Terra e um embrião planetário chamado Teia, que teria criado a Lua.
Sem contar que os resquícios de Teia nunca foram encontrados, nem aqui e nem na Lua, esse evento catastrófico também deveria ter vaporizado qualquer água preexistente, deixando para trás uma Terra seca.
Assim, se esse hipotético impacto catastrófico aconteceu de fato, teríamos duas opções para explicar a presença de água na Terra: ou a água foi trazida de volta mais tarde, após a catástrofe, principalmente por asteroides gelados ou ricos em água, ou o impacto gigante não foi grande o suficiente para vaporizar toda a água da Terra.
Devido à importância da água para sustentar a vida, essa questão da origem da água na Terra é primordial. Uma grande dificuldade para se investigar esta questão é que a Terra perdeu todos os traços de sua formação, por ser um planeta ativo, sujeito a múltiplos processos de erosão e intemperismo.
Vênus como modelo
Uma equipe de matemáticos e geoquímicos, liderados por Cedric Gillmann, da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, decidiu então olhar bem além da Terra - mais especificamente para Vênus - para investigar a origem da água terrestre.
A ideia era verificar aquela primeira possibilidade, a de que a água teria sido trazida para a Terra pela colisão de asteroides ou cometas ricos em água.
O interesse em Vênus se justifica porque, além de poder ser considerado um irmão gêmeo da Terra, a evolução da atmosfera de Vênus é muito mais fácil de entender e modelar ao longo dos tempos geológicos. Afinal, lá não há placas tectônicas, significando uma geologia muito mais estável, capaz de preservar indícios por muito mais tempo.
Além disso, devido à sua proximidade, a Terra e Vênus devem ter recebido o mesmo tipo de material durante sua história - o que caiu aqui deve ter caído por lá também. Todos esses aspectos se combinam para fazer de Vênus um lugar perfeito para estudar a evolução primitiva dos planetas terrestres.
- Nova teoria tenta explicar surgimento da água na Terra
[Imagem: Cosmic Collisions Space Show/Rose Center for Earth and Space/AMNH]
Só se a água fosse subterrânea
Usando simulações numéricas de impactos de diferentes tipos de asteroides, contendo variadas quantidades de água, a equipe descobriu que asteroides ricos em água colidindo com Vênus e liberando sua água como vapor não podem explicar a composição da atmosfera de Vênus como ela é hoje.
Isso significa que o material asteroidal que chegou a Vênus e, portanto, à Terra, após o impacto gigante de formação da Lua, deve ter sido seco, inviabilizando, portanto, a hipótese do reabastecimento de água na Terra.
Como a água pode obviamente ser encontrada em nosso planeta hoje, isso significa que a água que estamos desfrutando na Terra existe desde a sua formação, concluiu a equipe, sugerindo que, para preservar a hipótese do impacto que teria formado a Lua, nessa época a água provavelmente deveria, por algum motivo ainda não imaginado, estar enterrada nas profundezas do planeta para sobreviver ao impacto gigante.
Enquanto isso, outros cientistas tentam levantar outras hipóteses para a formação da Lua, eliminando esse incômodo impacto de Teia. Entre as mais recentes estão a hipótese de uma Terra que girava muito rápido e a Lua nascendo de chuvas de rocha em uma sinestia.
Quanto a outras hipóteses para a origem da água na Terra, elas incluem ela ter sido trazida por pequenos corpos celestes deslocados por Júpiter e a ideia mais mais interessante de que a Terra pode fabricar sua própria água.
- Rosetta: Água da Terra não veio de cometas
Artigo: Dry late accretion inferred from Venus's coupled atmosphere and internal evolution
Autores: C. Gillmann, G. J. Golabek, S. N. Raymond, M. Schönbächler, P. J. Tackley, V. Dehant, V. Debaille
Revista: Nature Geoscience
Vol.: 13, pages 265-269
DOI: 10.1038/s41561-020-0561-x
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