Vida Extraterrestre Poderia ser Semelhante à Terrestre?

Vida Extraterrestre
Poderia ser Semelhante à Terrestre?

Por Marcelo Szpilman *

A recente descoberta (pela Nasa) do planeta Kepler-452b, com fascinantes características que o tornaria habitável, suscitou, mais uma vez, a recorrente pergunta: poderia ele abrigar vida semelhante à terrestre?

As razões para tamanha especulação giram em torno do conceito de que o planeta fica numa “zona habitável”, região de seu sistema solar cuja radiação permite que exista atmosfera estável e água líquida na superfície. O que não seria novidade, já que a ciência estima haver na Via Láctea cerca de 10 bilhões de planetas com zonas habitáveis parecidas com a da Terra. Não haveria surpresa também se fosse descoberta vida em algum desses planetas.

No entanto, a “vida” que se pressupõe existir em outros planetas não deve ser nada diferente de bactérias ou outros organismos celulares simples. Especulações sobre vida “inteligente”, ou até seres semelhantes a nós, devem permanecer na esfera da fantasia.

Em cada um desses planetas em potencial, as chances de se repetirem (na mesma sequência física e temporal) todas as incontáveis variáveis, ocorrências, transformações e acasos naturais que alteraram as condições geológicas, ambientais e biológicas no nosso planeta e, por conseguinte, direcionaram a evolução da vida e das espécies como a conhecemos hoje, tendem praticamente ao impossível. E não faltam exemplos para explicar o porquê, sem falar nas condições especialíssimas que possibilitaram o surgimento das primeiras bactérias e algas microscópicas no mar, 3,5 bilhões de anos atrás.

Se hoje todos os animais têm cinco falanges (dedos) na extremidade dos membros, o motivo é elementar: há 650 milhões de anos havia seres macroscópicos terrestres com cinco, seis e sete falanges. Então, passados 400 milhões de anos de evolução, um cataclismo de enormes proporções extinguiu cerca de 80% de todas as espécies do nosso Planeta. Felizmente, um desses seres de cinco falanges conseguiu sobreviver e se tornou o ancestral que deu origem à diversificação evolutiva de todos os animais que vivem ou viveram na face da Terra. Não fosse esse simples acaso, nós poderíamos muito bem ter seis ou sete dedos.

Não fosse também a grande extinção em massa dos dinossauros, há 65 milhões de anos, não haveria condições para o fabuloso desenvolvimento dos mamíferos, já que os mesmos permaneceriam sendo seres pequenos, esquivos e noturnos para não serem comidos. E se não fossem as mudanças geológicas que criaram as cadeias de montanhas no Rift Valley, na África, continuaríamos sendo primitivos primatas hominídeos arborícolas. Explico. Essa barreira natural passou a reter os ventos e nuvens e modificaram o clima no leste da África há oito milhões de anos. Enquanto o lado oeste não sofreu grandes mudanças climáticas e suas florestas tropicais permaneceram abrigando os ancestrais dos gorilas e chimpanzés, o lado leste caracterizou-se por um aumento gradativo de aridez nas áreas habitadas pelos hominídeos (ancestrais do homem), causando a criação de um novo habitat que variava desde as savanas florestadas até as áreas muito áridas, quase desérticas. A ocupação e sobrevivência nesse novo habitat forçaram as mudanças evolutivas de comportamento e estrutura física __ locomoção bípede, utilização de ferramentas, aumento do cérebro (caça de grandes animais) e reconstrução do crânio (articulação da palavra) __ que nos levaram até o gênero Homo.

Assim, ainda que o tema “vida extraterrestre” gere muita imaginação criativa e filmes de Hollywood, seria bem mais salutar se nos preocupássemos efetivamente em conservar e proteger a Natureza extraordinária e única que tem possibilitado tamanha diversidade de vida no nosso planeta.

Pense bem: os grandes seres já estão por aqui há pelo menos 650 milhões de anos e se esse tempo correspondesse à uma hora, nós, Homo sapiens, que vagamos por essas bandas há somente 200 mil anos, faríamos parte da vida terrestre apenas no último segundo dessa hora. Olhando por esse ângulo, o Planeta Terra, que tem quase cinco bilhões de anos, não está nem um pouco preocupado se nós nos extinguirmos depois de acabar com a vida que hoje há nele, pois ela certamente retornará. Poderá levar alguns milhões de anos, mas a vida voltará e se desenvolverá com outras variáveis e outros seres vivos diferentes. Mas nós, seres humanos, não estaremos mais aqui para ver.
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*Marcelo Szpilman, biólogo marinho formado pela UFRJ, com Pós-graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJ, é autor dos livros Guia Aqualung de Peixes (1991) e de sua versão ampliada em inglês Aqualung Guide to Fishes (1992), Seres Marinhos Perigosos (1998), Peixes Marinhos do Brasil (2000) e Tubarões no Brasil (2004). Por ser um dos maiores especialistas em peixes e tubarões e escritor de várias matérias e artigos sobre natureza, ecologia, evolução e fauna marinha publicados nos últimos anos em diversas revistas, jornais, blogs e sites, Marcelo Szpilman é muito requisitado para ministrar palestras, conceder entrevistas e dar consultoria técnica para diversos canais de TV. Atualmente, é diretor-presidente do Aquário Marinho do Rio de Janeiro, diretor-executivo do Instituto Ecológico Aqualung, diretor do Projeto Tubarões no Brasil, membro do Conselho da Cidade do Rio de Janeiro (área de Meio Ambiente e Sustentabilidade) e membro e diretor do Sub Comitê do Sistema Lagunar da Lagoa Rodrigo de Freitas.



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