A pedagogia democrática segundo Platão

A pedagogia democrática segundo Platão

 
A pedagogia democrática segundo Platão: A filosofia educacional de Platão e suas reflexões pedagógicas sobre a educação.

A pedagogia democrática segundo Platão

Platão segundo historiadores foi o primeiro Pedagogo da história da educação, e foi quem mais atenção deu à extensão dos processos educativos. Sua preocupação maior visava quantos seriam bem formados para o exercício da vida cívica. Assim, Platão defendia que a educação tinha caráter público e que seja ministrada em prédios construídos especialmente para esse fim, onde meninos e meninas recebam igual instrução. Esta, por sua vez, precisava ser iniciada o mais cedo possível, sendo sugerida às crianças pequenas (na faixa etária de três a seis anos) a prática de diferentes jogos, inventados por elas mesmas ou não combinando teorias defendidas mais tarde por inúmeros filósofos educadores até os dias de hoje.
A educação é um elemento importante na consolidação do Estado. É ela justamente que possibilita a construção da unidade cultural de um povo.
Platão nasceu em Atenas por volta de (427-347 a. C.) e recebeu uma educação clássica bem como todos jovens atenienses, sendo preparado para atuar nos jogos e para a guerra. Aprendeu também música e literatura, além de frequentar os sofistas para adquirir habilidades da retórica, tão necessária à participação da vida política na cidade, como era comum aos filhos dos cidadãos livres.
Aos vinte anos, começou a fazer parte do círculo de Sócrates, em Siracusa. Também conheceu alguns jovens pitagóricos e, até estabeleceu laços de amizade com eles, ocasião em que provavelmente, tomou contato com o pensamento de Parmênides.
Quando discípulo de Sócrates, Platão começou a questionar a formação educacional aristocrática que recebeu e os modos de vida aos quais se encontrava submetido, defendendo uma educação mais democrática e com princípios pedagógicos que compreendiam em um olhar especial a educação infantil com a utilização de mediadores especializados, além de propor reformas educacionais em todos os estágios educacionais. Com essa atitude, ele problematiza os problemas educacionais e propõem novas construções sociais de aprendizagem.
Para se chegar a este nível de educação, Platão defende que é necessário passar por um nível sólido de formação básica, à qual terá dado o nome de educação preparatória. Esta terá por função desenvolver de forma harmoniosa o espírito e o corpo.
Segundo Platão, Atenas negligenciava a educação da juventude, desinteressava-se e deixava-a nas mãos dos particulares. O estado deveria preocupar com a formação daqueles que seriam os futuros cidadãos.
Para ele, a educação deveria tornar-se algo público, os mestres deveriam ser escolhidos pela cidade e controlados por magistrados especiais. Platão defendia ainda que a educação deveria ser igual para meninos e meninas, mas só até aos seis anos. A partir desta idade teriam mestres e classes diferentes.
Nos primeiros anos de vida, dos 3 aos 6 anos, as crianças deveriam participar de jogos educativos, em jardins especialmente concebidos para elas e sob atenta vigilância. No entanto, para Platão, como para todos os gregos, a educação propriamente dita, só começaria aos 7 anos.
Como formação inicial, Platão conservou a antiga Paideia grega, escolha que se revestiu de enorme importância para o desenvolvimento da tradição clássica, permitindo a sua continuidade e o seu enriquecimento com a cultura filosófica.
A educação antiga da Grécia, era constituída por duas partes: gymnastiké (ginástica) para o corpo e mousiké para alma. Em relação à ginástica, Platão recrimina a função de competição que lhe fora atribuída ao longo dos tempos. Segundo ele, a ginástica deveria regressar à sua forma original, incidindo exclusivamente em exercícios de carácter militar, desempenhados tanto por meninas como por meninos, preparando-os para o combate. O seu programa de jogos incluía a luta, as corridas a pé, os combates de esgrima, os combates de infantaria pesada e de infantaria leve, o arremesso de flecha com arco, a funda, marcha e manobras táticas, a prática do acampamento e a caça.
Esta preparação militar deveria ocorrer nos ginásios e nos estádios públicos, sob a direção de monitores profissionais cujos honorários seriam pagos pelo Estado. A ginástica seria iniciada neste nível mais elementar e continuaria até à idade adulta. A sua finalidade não era alcançar a força física de um atleta, mas contribuir para a formação do carácter e da personalidade. Platão considerava que os homens que se dedicavam exclusivamente à ginástica, acabavam por se tornar insensíveis à cultura e eram pouco mais do que selvagens.
À ginástica Platão acrescentava ainda a dança, insistindo bastante na sua prática e ensino, pois considerava-a um meio de disciplinar a espontaneidade das crianças, contribuindo para a disciplina moral e educacional.
No ciclo entre os 10 e os 13 anos, a criança deveria aprender a ler e a escrever, iniciando em seguida o estudo dos autores clássicos, integralmente ou em antologias (trechos escolhidos). Para além dos poetas, Platão defende também o estudo de autores em prosa.
No período dos 13 aos 16 anos, a música ocupa um lugar de distinção na educação. Para Platão a criança desenvolve sua sensibilidade através da música, pelo fato de a assimilar espiritualmente e desabrochar dentro de si seu desenvolvimento intelectual para uma formação sólida de seu caráter social e educacional.
A música contribui, assim, para a formação harmoniosa da alma. Segundo Platão, ela não abrange apenas o que se refere ao tom e ao ritmo, mas também, e até em primeiro lugar, a palavra falada” Logos”.
O estudo das matemáticas foi sempre reservado a um grau superior do ensino. Para Platão, no entanto, as matemáticas deveriam encontrar o seu lugar em todos os níveis, começando pelo mais elementar, sendo aprofundada a partir dos 16 anos e prolongada nos estudos superiores.
Esta inovação de Platão inspira-se provavelmente nas práticas egípcias a que a ele teve acesso. Assim, à aritmética, acrescentou a prática dos exercícios de cálculo ligados a problemas concretos da vida e dos negócios. Estes primeiros exercícios possuíam já uma virtude formadora, sendo seu objetivo a aplicação da matemática à vida prática, à arte militar, ao comércio, à agricultura e à navegação.
Para além da geometria, a que dava a maior importância, Platão defende também o ensino uma ciência totalmente nova, a estereometria (cálculo do volume de sólidos). Prevê o estudo da astronomia que deveria permitir adquirir os conhecimentos mínimos para o uso do calendário. Segundo Platão, são precisamente as matemáticas que servem como meio de pôr à prova os espíritos mais aptos a tornarem-se um dia dignos da filosofia. Ao mesmo tempo que selecionam os futuros filósofos, formam-nos e preparam-nos para os seus futuros trabalhos.
Aos 17 e aos 18 anos os estudos intelectuais interrompem-se por dois ou três anos porque aos jovens era imposto o serviço militar. Neste período, segundo Platão, a fadiga e o sono impediam qualquer estudo.
Aos 20 anos realiza-se uma seleção por meio da qual os menos dotados eram destinados ao exército; numa segunda seleção, a maioria dos jovens era encaminhada para diversas profissões e ofícios civis e só os mais dotados iniciariam os estudos superiores, mas não diretamente para a filosofia. Durante ainda 10 anos, continuam o estudo das ciências, mas agora a um nível superior.
O programa é a aritmética, a astronomia e a música, a geometria (plana e no espaço). Todas estas ciências devem eliminar qualquer experiência prática tornando-se totalmente racionais, por exemplo, a astronomia deve ser uma ciência matemática e não uma ciência da observação.
As matemáticas são o instrumento da formação dos filósofos, que através dos problemas elementares de cálculo, devem ser encaminhados para um grau superior de abstração. Platão diz que as matemáticas não devem preencher a memória com conhecimentos úteis, mas formar um espírito capaz de receber a verdade inteligível.
É interessante verificar que Platão não esquece o papel da educação literária, artística e física na personalidade e na harmonia do todo, mas este papel não tem comparação com o desempenho pela matemática na iniciação da cultura que leva à busca da verdade.
Somente aos 30 anos, no fim de um ciclo de matemáticas transcendentes e depois de uma última seleção, se inicia o método propriamente filosófico, a dialética, discussão do problema do bem e do mal, do justo e do injusto, caminho para o conhecimento e a verdade.
Passados cinco anos os estudantes estarão na plena posse deste instrumento, o único que conduz à verdade. Os que chegarem a esta fase devem ser capazes de ultrapassar a percepção dos sentidos e penetrar o próprio Ser.
Durante quinze anos ainda, o homem já assim formado deve adquirir experiência participando na vida ativa da cidade. Aos cinquenta anos, estará completa a sua educação, se tiver sobrevivido e superado todas as provas. Ele reconhecerá a possibilidade de atingir a meta suprema que é a ideia do Bem. Poderá então exercer um cargo na direção do estado, não como uma honra, mas como um dever.
Este plano de Platão, que abarca a vida inteira, tem unicamente como objetivo formar um pequeno grupo de governantes – filósofos, aptos a tomar as rédeas do governo para o bem do estado.

Resumo do curso de estudos segundo Platão – Dividido em cinco períodos “Ciclos”.

1º- dos 3 aos 6 anos:

Nos primeiros anos de vida, dos 3 aos 6 anos, as crianças deveriam participar de jogos educativos, em jardins especialmente concebidos para elas e sob atenta vigilância. Um ênfase maior será nas matérias de Artes, Dança e música, levando em consideração a criatividade da criança como ponto central educacional.

2º- dos 7 aos 13 anos:

Introdução paulatina da cultura intelectual e acentuação dos exercícios físicos. A partir dos 10 anos, aprendizagem da leitura e escrita e cálculo por processos práticos. Afasta-se assim dos costumes atenienses que começavam a educação intelectual antes dos 10 anos.

3º- dos 13 aos 16 anos:

Período da educação musical. O programa é dividido em duas secções: uma literária, compreendendo gramática e aritmética; compreendendo poesia e música. Ensina-se a tocar a cítara e prefere-se a música dórica, enérgica e viril.

4º- dos 17 aos 20 anos:

Período da educação militar. Os jovens deverão adquirir resistência e uma saúde a toda a prova. Será preciso harmonizar a música à ginástica.

5º- dos 21 anos em diante:

Apenas os jovens mais capazes devem continuar a educação já com carácter superior e baseada nas Matemáticas e Filosofia. Entre eles, selecionam-se os futuros governantes, prosseguindo sua educação até os 50 anos.

Essa educação pode ser distribuída da seguinte forma:

  • Dos 21 aos 30 anos: estuda-se com profundidade: aritmética, geometria e astronomia.
  • Dos 31 aos 35 anos: predomínio da formação filosófica e dialética, sem prejuízo dos estudos matemáticos.
  • Dos 35 aos 50 anos: O magistrado será incumbido de uma função pública e empregará os seus talentos para a prosperidade do Estado. Ninguém será admitido ao governo, antes dos 50 anos de idade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JAEGER, Werner. Paideia – A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995. PLATÃO. La République. Paris: Garnier-Flammarion, 1966. ______. The Laws. London: Peguin Books, 1975. BIBLIOGRAFIA ANDRADE, Rachel Gazolla de. Platão: O Cosmo, o Homem e a Cidade. Petrópolis: Vozes, 1993. CHATELET, François. El pensamiento de Platón. Barcelona: Nueva Colección Labor, 1973. Page 5 of 5 http://www2.unifap.br/borges KOYRÉ, Alexandre. Introduction à la Lecture de Platon. Paris: Gallimard, 1962.

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